segunda-feira, 6 de junho de 2016

Bons vinhos na IG Monte Belo, lançados na semana passada

                                 Os sete vinhos da IG Monte Belo
                                         Antoninho Calza
















                                                                                                                                                                                         Aristides Fantin

                                Roque Faé

Um belo jantar marcou o lançamento dos sete primeiros vinhos certificados com Indicação de Procedência Geográfica Monte Belo pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), sexta-feira, dia 3 de junho, em Monte Belo do Sul, município com apenas 2,7 mil habitantes, mas que tem a maior produção de uvas finas per capita de toda a América Latina, com 16 toneladas ao ano, em média. No restaurante Il Divino Café, num fim de tarde frio, excelente para degustar vinhos, a cerimônia foi coordenada pela Associação dos Vitivinicultores da Região de Monte Belo (Aprobelo), que tem 11 vinícolas associadas, mas só três participam desta primeira IG, pela Embrapa, que assessorou o projeto, com as universidades de Caxias do Sul e do Rio Grande do Sul, pelo Instituto Brasileiro do Vinho e pelo prefeito  Lirio Turri. São quatro vinhos tintos, das variedades Merlot e Tannat, dois brancos, Riesling Itálico e Chardonnay e um espumante elaborado pelo método tradicional, no corte exclusivo da IG Monte Belo (Riesling Itálico, Pinot Noir e Chardonnay), produzidos pelas vinícolas Calza, Faé e Fantin. O trabalho de certificação começou em 2004.
Um diferencial muito interessante do espumante e do Riesling Itálico é que foram elaborados  com o uso de levedura nativa, local, desenvolvida pela Embrapa (Sacharomyces cerevisiac), o que lhe garante uma tipicidade única (os demais  espumantes e vinhos usam leveduras importadas). A IG Monte Belo não é apenas uma certificação de método de produção em área delimitada e com cuidados especiais para garantia a qualidade, é uma nova filosofia de produção de vinhos naquela região, segundo os enólogos Dirceu Scottá, presidente do Instituto Brasileiro do Vinho, e Mauro Zanus, chefe da Embrapa Uva  e Vinho, numa região que tem 2.500 hectares de vinhedos, 30% deles varietais,
O jantar para a harmonização dos vinhos foi preparado especialmente pelo chefe de cozinha Wagner Paim, do restaurante Valle Rústico, do Vale dos Vinhedos. Ele usou produtos da terra e da safra, destacando os de origem colonial.
A degustação começou com o  Espumante Brut Calza, apresentado pelo próprio Antônio Calza, dono da vinícola. Elaborado com 30% de Pinot Noir, 30% de Chardonnay e 40% de Riesling Itálico, passou 13 meses nas leveduras nativas, em duas fermentações. Tem cor palha-dourado com reflexos esverdeados, borbulhas numerosas, com boa persistência de espuma, aroma agradável com notas cítricas predominantes (lima), mesclados a abacaxi, pomelo e massa de pão. Em boca, é acídulo, marcante e persistente, com ótima cremosidade; Sutilo toque amargo em fim de boca, que realça a peculiaridade e a qualidade do produto. Retrogosto cítrico. A comida foi antepasto da colônia, biscoito de polvilho, pão de queijo, focaccia, queijo colonial e salame.
O segundo vinho foi o Chardonnay Calza 2015, que passou algum tempo em carvalho esloveno médio tostado. Tem 12° de álcool, o que o torna excelente para harmonizar com comidas leves. É um vinho dentro da linha européia de baixo teor de álcool. Com cor palha levemente dourada, é brilhante, com aroma complexo de côco e especiarias, com toque floral e fundo amadeirado de muito boa qualidade. Em boa, percebe-se a excelente mescla vinho-madeira. É refrescante, leve e elegante e harmonizou bem com a entrada da colônia (legumes daestação bgrelhados).
O terceiro vinho foi o Merlo Fantin denominado Casa Ângelo 2014, com 12° de álcool, sem passar por madeira. A Merlot é uma uva que se adaptou muito bem em Monte Belo, segundo Aristides Fantin, dono da vinícola, e proporcionou um vinho excepcional de cor rubi púrpura de média intensidade, com aroma vinoso, toque reduzido, mesclado a aromas terrosos, vegetais e de musgo. Em boca, o ataque é macio, sendo suplantado pela tanicidade com leve adstringência. Fim de boca algo amargo, mas o conjunto é interessante e harmonizou muito bem com o primeiro prato do chef Paim, risoto de cogumelo.
O Merlot Fantin foi seguindo pelo Merlot Faé 2014, do qual Roque Faé elaborou apenas 1.500 garrafas, usando, em média, dois quilos de uva para cada garrafa. Cerca de 10% do liquido passou em barrica de carvalho francês, resultando num vinho muito agradável em boca, com 12,5º de álcool. Tem cor razoavelmente intensa, de matiz púrpura levemente amarronzada, aroma agradável intenso, levemente amadeirado, sobressaindo notas de licor,a meixa preta, uva passa e compota. Em boca, tem boa estrutura, com tanicidade presente, leve adstringência e boa acidez. Retrogosto adocicado, agradável, intenso e persistente. Caiu bem com o risoto.
O quinto vinho foi o Merlot Calza Ouro Negro 2014, que passou por madeira, com 13º, que mostrou taninos muito macios, cor intensa, de matiz púrpura levemente amarronzado, aroma intensa e agradável de frutas vermelhas, com toque de esmalte e fundo de café torrado. Boa mescla vinho-madeira. Adocicado, bom corpo, com taninos presentes, mas agradáveis. Fim de boca tépido, agradável e complexo.
Depois, foi a vez do Tannat Calza 2014, com 13°, vinho potente, que harmonizou muito bem com a costela assada com creme de batat doce e chimichurri do chef Paim, procedente de um vinho com 24 anos, com maciez e boa acidez, aroma de chocolate. Passou por madeira. Cor púrpura escura e intensa, aroma predominante também de fruta passa (sobretudo ameixa seca), com leve nota de couro, musgo e fungo seco. Em boca, é complexo, encorpado, acídulo e tânico. Fim de boca intenso e agradável. É um típico Tannat que mostra a qualidade desta varietal  em Monte Belo. A costela assada apresentada pelo chef Paim Merece um destaque: foi a melhor que comi este ano!
Finalmente, para acompanhar a sobremesa, o Riesling Itálico Calza 2015,  11,5°, cuja particularidade maior me pareceu o toque de mel, elaborado com a levedura nativa desenvolvida pela Embrapa Uva e Vinho (24MBCM06). De cor palha-dourada brilhante, com leve reflexo esverdeado, tem aroma discreto e agradável, mescla de notas de amêndoa, flores brancas (copo de leite), aromas lácteos e mel. Em boa, é elegante, leve, maduro, medianamente persistente e fácil de beber. É um daqueles vinhos para a gente ficar sentado à uma mesa, bebendo e jogando conversa fora num fim de tarde. Ou para acompanhar uma sobremesa como os petit fours da roça (torta de frutas da estação) do chef Paim.
A área delimitada da IG Região de Monte Belo tem um total de 56,09 km2, estando 60% no município de Monte Belo do Sul e o restante nos municípios de Bento Gonçalves e Santa Tereza.
 A área delimitada da IG Região de Monte Belo tem um total de 56,09 km², estando 80% no município de Monte Belo do Sul e o restante nos municípios de Bento Gonçalves e Santa Tereza.
- São mais de 600 propriedades vitícolas na área delimitada formando um verdadeiro mosaico de vinhedos que ocupam 37% da área, com alta concentração de uvas viníferas de qualidade. A área delimitada possui no seu entorno um cinturão verde, formado por matas onde a declividade é acentuada. A região está diretamente exposta ao Vale do Rio das Antas, com altitude média de 485 metros (altitude mínima de 349 metros e máxima de 659 metros).
- O projeto técnico-científico de desenvolvimento da IG foi iniciado em 2004, envolvendo diversas instituições, com a coordenação da Embrapa Uva e Vinho, de Bento Gonçalves.
100% das uvas utilizada na elaboração dos vinhos devem ser produzidas na área geográfica delimitada.
- Os vinhedos precisam ter controle de qualidade, a maturação das uvas para vinificação precisa ter padrões diferenciados e os vinhos devem ser elaborados apenas com as variedades autorizadas e com os padrões exclusivos da região.
- Os vinhedos de Monte Belo do Sul são todos georreferenciados, garantindo o rastreamento dos produtos.
A Vinhos Casa Fantin Ltda foi fundada em junho de 2001. Inicialmente eram três sócios, e a produção era somente de vinhos comuns. Eram vendidos sangrias, coquetéis e vinho em garrafão.
No ano de 2007, houve a dissolução da sociedade, ficando Aristides Fantin como atual proprietário. Com a uva produzida nos vinhedos próprios, a vinícola passou a elaborar vinhos finos e coloniais.  A empresa é familiar e sua produção é limitada, não sendo em grande escala. Os vinhos e espumantes elaborados são vendidos na sede da vinícola e em diferentes pontos do estado a partir de contato com a equipe de vendas. 
Fundada em 1995, a Vinícola Calza começou vendendo sua produção de vinhos a granel. A partir de 2000, com melhorias na estrutura, lançou a marca Calza de vinhos finos, com uma produção limitada de 5,8 mil garrafas. A partir de 2004, com base na esplêndida qualidade das uvas brancas produzidas em Monte Belo do Sul, foi elaborado o primeiro espumante, formando assim a sua linha de vinhos finos e espumantes. Atualmente a empresa comercializa cerca de 40 mil garrafas de vinhos finos e espumantes por ano. A empresa foi fundada e é administrada única e exclusivamente pela família, sendo o enólogo responsável Antoninho Calza. Um vinho muito interessante que provei lá na Calza, em companhia do Júnior Calza, foi o Sangiovese 2012, elaborado com uvas da Linha 80 da Leopoldina, excelente paladar e preço muito acessíve, R$ 42,00.
A Vinhos Faé Ltda foi fundada em 1985 e instalada dentro da propriedade adquirida por Ângelo Faé, imigrante italiano que chegou ao Brasil por volta de 1883, vindo de Bassalghelle, Oderso, Região de Treviso, Itália, que se instalou no lote 33 da Linha Alcântara. Desde a sua fundação, seu proprietário, Roque Faé, buscou aliar tradição,  técnica e paixão. Desde 2005, elabora vinhos e espumantes finos, com uma produção limitada a pequenas quantidades, cerca de 2 mil garrafas das variedades Merlot, Cabernet Sauvignon, Riesling Itálico, espumante moscatel e espumante brut pelo processo charmat.

Entrada da colônia para o Chardonnay

Antepasto da colônia para o Espumante Brut

Costela assada com batata doce e chimichurri para o Tannat


Risoto de cogumelos  para os Merlot



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