segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

O que é e o que faz o Ibravin


 A jornalista Martha Caus, chefe da assessoria de Comunicção do Instituto Brasileiro do Vinho, envia alguma considerações sobre o debate que se estabeleceu no setor vitivinicola em torno do instituto, do seu trabalho, que alguns elogiam e outros criticam, das campanhas para aumentar as vendas de vinho. Vale a pena ler, porque muita gente não conhece todo o trabalho do Ibravin.
“Entro em contato – começa Martha -  para acrescentar informações no espírito de contribuir com o esclarecimento de algumas considerações feitas recentemente sobre o trabalho realizado pelo Ibravin. De antemão, te agradeço pelo espaço que sempre dedicas ao setor, contribuindo para a evolução da cadeia produtiva, através da discussão dos temas pertinentes a vitivinicultura. Acredito que o debate é sempre construtivo, principalmente, quando se tem como princípio a busca pela solução ou o aprimoramento de uma situação. Coloco abaixo algumas informações sobre os temas que abordaste tanto em sua coluna como em seu blog, que acompanho não só por interesse pessoal, mas pela relevância que tens para o setor.
- O Ibravin é hoje o principal espaço para se discutir gargalos, buscar soluções, traçar planos e executar ações que visem o desenvolvimento do setor produtivo da uva e do vinho. E conseguiu legitimar este reconhecimento graças ao espaço que mantém permanentemente aberto para a exposição de ideias e o debate. Obviamente não há unanimidade dentro da cadeia produtiva, como dificilmente se vê em qualquer esfera de representação coletiva, mas acho que este mérito do Ibravin deve ser reconhecido. Todas as decisões tomadas e executadas pela entidade são trazidas e aprovadas pelos representantes do setor que são os que verdadeiramente constituem o instituto. A presidência do Conselho Deliberativo é alternada a cada dois anos entre entidades do setor produtivo da uva, das cooperativas e da indústria. Há também a participação representativa do setor de pesquisa e tecnologia, do segmento profissional e do setor público. E ainda há o Comitê de Mercado, que ajuda a balizar as decisões estratégicas, para que estejam alinhadas a um contexto econômico-comercial.
- Há vozes discordantes que fazem uma militância à distância, mas felizmente os avanços que o setor tem conquistado se dão graças à coragem, responsabilidade e comprometimento dos que se propõem a construir, a discutirem propostas juntos, para defenderem o que acreditam.
- O setor ainda é muito jovem no Brasil (tanto que como comentaste, chegaste a testemunhar muitas das empresas nascer), principalmente tendo como comparativo uma indústria centenária e altamente competitiva mundialmente. A organização e exercício do diálogo ainda estão amadurecendo, mas já trouxeram muitas conquistas. Em 2013 o Ibravin completou 15 anos de sua fundação e eis um rápido panorama do que conseguiu neste período:
- Mudanças significativas na legislação como o alinhamento da legislação brasileira ao regulamento do Mercosul, o estabelecimento de Padrões de Identidade e Qualidade (PIQs), definição de suco, néctar e refresco, entre diversas outras mudanças para regulamentação legal.
- O aparelhamento do Laboratório de Referência Enológica, que tem sido crucial no aspecto de fiscalização e na realização de análises que contribuem para a evolução do setor
- A solicitação permanente por rigor na fiscalização do próprio setor, e de comercialização de produtos danosos ao consumidor e à concorrência leal
- A implantação do cadastro vitícola e vinícola, único estado no país a ter este tipo de ferramenta e monitoramento da produção e comercialização com dados atualizados anualmente e disponibilizados ao público
- Estruturação de órgãos de representação e de interface com o governo federal e estadual – as Câmaras Setoriais vitivinícolas em Brasília e no RS
- Desenvolvimento de planos anuais de trabalho com o estabelecimento de objetivos e metas, além da construção de um plano estratégico de longo  prazo para balizar a tomada de decisões de curto e médio prazos
- A construção do diálogo entre os produtores de uva, a indústria e o governo e, mais recentemente, o estreitamento de relações com os canais de distribuição, importação e varejo.
- A participação internacional tanto na esfera de representação (em fóruns mundiais, eventos e na OIV) como comercialmente, por meio de projetos com recursos provenientes da Agência Brasileira de Promoção à Exportação e Investimentos (Apex-Brasil).
- Neste último ponto, aproveito para tentar esclarecer uma pontuação que surgiu recentemente de que os recursos para promoção internacional deveriam ser aplicados no mercado interno. O Wines of Brasil é um projeto realizado em parceria entre o Ibravin e a Apex-Brasil. Os recursos têm origem no órgão federal e são para uso exclusivo em ações no mercado externo. Se o Ibravin não estivesse operando o projeto esta verba seria perdida não acrescentando à promoção no mercado interno, ou ainda,  estes recursos seriam utilizados pelos demais projetos setoriais apoiados pela Apex como o do café, da carne, da cachaça, do setor têxtil, moveleiro entre outros que têm ações no exterior financiadas pelo órgão. Vale ressaltar que o mercado do vinho tem projeção global, por isso as ações do Wines muito têm contribuído para o aprimoramento das ações em nosso próprio mercado, com impactos positivos na evolução das empresas brasileiras que têm acesso à feiras e missões internacionais. Tive a oportunidade de acompanhar um grupo ao exterior, e vi o caráter transformador que uma experiência dessas traz aos empresários brasileiros, em especial os de menor porte. E isso, independe dos resultados comerciais que vêm sendo obtidos. 
- Sobre a decisão de se realizar campanhas promocionais, como todas as demais ações executadas através do Ibravin, foi uma demanda que partiu do próprio setor, com o apoio do governo do Estado. Em função do investimento a ser feito para este tipo de ação, priorizou-se o RS, por ser um dos principais mercados consumidores de vinho no país, “quintal de casa” do setor produtivo brasileiro e, ainda assim, haver uma participação de mercado maior dos importados. De qualquer forma, não foi descartada a possibilidade de ampliação da campanha para fora do estado em 2014, mas esta decisão será tomada a partir da avaliação de resultados obtidos nesta primeira etapa, somada a outras questões.
- Quanto aos apontamentos de que no Ibravin predominam ações que favorecem  os “grandes", te apresento um dado de monitoramento interno do Ibravin a respeito das ações desenvolvidas em 2013 x participação por porte das empresas: Nas 245 ações realizadas no ano (um aumento de 99,19% sobre o ano anterior), foi registrada a participação total de 121 empresas, com a seguinte distribuição por porte (segundo critérios Sebrae): 76% micro/pequeno porte, 17% grande porte e 7% médio porte. 
- Por fim, sabes bem da rotina dos dirigentes que estão na defesa constante da competitividade do setor, em especial, na questão de legislação e carga tributária. Além de manter uma conversa estado por estado na busca por um tratamento mais isonômico dos impostos, os dirigentes e executivos mantém um trabalho constante de sensibilização das instâncias federais para que se reduza o peso dos tributos sobre a cadeia produtiva. Para ficar em um exemplo recente, foi feito um trabalho corpo a corpo junto aos deputados federais e ministérios pertinentes para a inserção do setor no Simples Nacional, algo que beneficiará as pequenas e micro empresas que representam mais de 90% das empresas vitivinícolas.
Como de hábito, os dirigentes e executivos do Ibravin estão à disposição para quaisquer esclarecimentos ou apresentação de dados. E acredita que a discussão contribui para a evolução, desde que o interesse dos interlocutores seja genuinamente construtivo, como acreditamos ser o seu caso.”
Forte abraço,
Martha Caus


Esclarecedor, em vários aspectos, o pronunciamento de Martha Caus. Como acompanho o Ibravin desde sua criação, sei do seu trabalho, e também das críticas que recebe. Uma das poucas coisas que não me agradam – e é uma opinião extremamente pessoal – são as campanhas publicitárias que o Instituto tem patrocinado, as quais, no meu entender, não vendem vinho. A atual, que está nas televisões, então, é uma das mais inócuas. A culpa não é totalmente do Ibravin, é da falta de criatividade e empenho dos nossos publicitários, mas como é o instituto – isto é, nós – que as pagamos, ele deveria ser mais exigente com as agências. Sei, também, de muitas discordâncias de empresários do setor do vinho com o Ibravin e as tenho divulgado, quando chegam até mim, mas, aí, é coisa deles. Se quiserem, o Blog Cordeiro e Vinho continua aberto para receber suas manifestações. Aliás, gostaria de recebê-las para animar o debate.

Um comentário:

Blog do Didú disse...

Caro Amigo Ucha, saúde.
Impossível para mim, como pé-franco e biodinâmico não me pronunciar.
Prometo ser bem curto e direto.
Campanha publicitária para vinho é e sempre será MUITO BOA. Afinal o vinho não vende mais principalmente por falta de investimento de TODO o SETOR.

O Ibravin tem excelentes trabalhos realizados, cito apenas o Projeto comprador, o Projeto Imagem e as feiras no exterior, que já seriam suficientes.

Porém ele ainda carrega nas costas os erros recentes do Selo Fiscal (só serviu para aumentar o preço dos vinhos e prejudicar os pequenos produtores) Nunca mais se viu os nªs de contrabando. Acabaram? Ou aumentaram?
E da famigerada miopia do pedido das Salvaguardas.

Enquanto o Ibravin não se livarar disso será assim, fazendo ou não fazendo leva pedrada.

Já passou da hora de convidar a UVIFAN para sentar na mesma mesa. O Ibravin nunca mexeu uma palha pelo simples, no Comitê do Vinho cansamos de falar isso na presença do Paviani que ficou sempre mudo. Mas agora que aparece o projeto do Afif Domingos e toda a força de um macro projeto de Simples Universal eles aparecem todos os dias mostrando empenho na questão.

Ora, todos estamos escolados com as garupas políticas neste país. Pega mal "secondo me", mas se ajudar dane-se, o importante é o Simples sair.

Enquanto o Ibravin não olhar com sinceridade e modéstia, sem arrogância política, a questão dos pequenos produtores a coisa não vai mudar.

bem é minha opinião e gosto muito delas e não tenho vergonha de defende-las. Bacio meu amigo.