terça-feira, 30 de julho de 2013

Sobre concursos de vinhos e de queijos

Meu amigo Leo Iolovitch comentou, através do facebook, a nota que coloquei sobre o concurso de queijos em Minas Gerais no qual nenhum produto gaúcho se destacou. Ele põe em dúvida a seriedade dos concursos e estranha, como eu, a grande quantidade de concursos sobre vinhos. Aproveitou para me mandar uma crônica sobre descritores de vinhos. "Valeu Danilo Ucha grato pelo esclarecimento, talvez a diferença da seriedade dos concursos seria "da água para o vinho", no caso "do leite para o vinho". Já que falamos em vinho envio-te o texto AMIGO DO PEITO que faz ironia sobre o tema. Abraço http://www.olivronanuvem.com.br/site/amigo-do-peito.html" O arquiteto Jacques Gerchman entrou na nossa conversa com um bom comentário: “Danilo Ucha, também acredito que boa parte desses concursos são parte do negócio de promoção, principalmente os de vinhos. Quanto a esse de queijo, desconheço, mas posso garantir que Minas faz queijos maravilhosos. Boa parte do que consumo aqui em Porto Alegre, compro na Banca do Holandês, feitos em Minas." Eis a crônica do Léo: AMIGO DO PEITO Um peito amigo Já andava cansado com o modismo dos comentários sobre vinhos. Lembrou-se da frase do pai de uma amiga, que nenhuma profissão pode ser séria quando precisa de mais de duas palavras para defini-la. Na análise de vinhos poderia valer o mesmo e foi repetindo mentalmente os adjetivos usados: robusto, intenso, elegante, honesto, maduro, potente, suave, aveludado, com caráter, frutado, floral, encorpado, delicado, capitoso, e outros tantos que não lembrava no momento. Então, concluiu que seria uma experiência fantástica namorar uma mulher “sommelier”, cujo feminino francês ignorava. Ficou pensando, como faria bem para sua autoestima ser classificado como: robusto, potente, maduro, honesto, intenso e, ao mesmo tempo, suave, delicado e com caráter. Ah, como seria bom ouvi-la dizer isso tudo, olhando para ele e não para uma garrafa inanimada. O seu desejo fracassou, pois encontrou poucas especialistas em vinho que lhe despertassem o interesse, e as bonitas não se interessaram por ele. Assim a ideia ficou na prateleira, como um vinho de pouco prestígio. Essa mistura de vinho e mulher permaneceu forte no seu pensamento e surpreendeu-se que, involuntariamente, até invertera a ordem. Deveria ser mulher e vinho, mas lembrou-se que essa inversão era cada vez mais frequente entre seus amigos, como se isso justificasse o ato falho. Essa constatação deu início ao processo que mudou sua vida. A partir desse dia tomou a decisão de proclamar-se especialista em mulher, mais especificamente em seios, que era sua paixão, e passou a pontificar sobre o tema. Os psiquiatras com ar solene falaram em fixação materna, que contestou rindo, dizendo que já havia superado a fase láctea e estava no estágio puramente sensual. O formato, o tamanho, a maciez da pele, as múltiplas curvas do alto ao bico, a equação correspondente da curva inferior do bico à base, a harmonia de um com outro, o grau de empinação e por aí afora. Tantos tipos, tanto fascínio, tanta variedade e, ah, esses caras falando de vinhos... Teatralizava seus comentários com a mão em concha e esporadicamente com o uso das duas, limitando o uso da língua apenas para falar. Embora, quando comentava sobre a aréola e os bicos, era perceptível um movimento sutil de seus lábios, como se quisesse sugar algo. Tornou-se um especialista. O inusitado proporcionou-lhe a fama. Entrevistas na TV e revistas, consultoria de fábricas de sutiãs e cirurgiões plásticos também aconteceram. Soube tirar proveito da notoriedade. Era procurado por mulheres que, na ânsia competitiva de nossos tempos, queriam sua aprovação e distinção para exibir seus peitos, como quem mostra uma garrafa de Romanée Conti ou Petrus, reconhecidas com a chancela universal do preço. Sempre foi discreto e manteve essa qualidade, o que torna difícil saber quantas foram as mulheres e quantos foram os peitos apalpados, acarinhados e oferecidos ao tato e outros métodos de percepção e avaliação, que o especialista, justificadamente, não revelava. Deliberadamente evitava aquela linguagem dos entendidos em vinho, porém traiu-se uma ocasião, ao usar expressão retrogosto... Abandonou a comparação com vinhos, mas teve de se resignar quando diziam que se tornara o Robert Parker dos peitos, embora peremptoriamente se recusasse a dar pontos como o americano, dizendo que gosto é gosto e cada qual tem sua preferência. Hoje não há quem não o conheça, tornou-se celebridade. Participa até de congressos em que o hino nacional é utilizado, para conferir maior seriedade, e nessas ocasiões, durante o momento em que se canta: “em teu seio, ó liberdade”, percebe-se que os olhares convergem para ele. Apesar de tudo não ficou vaidoso, nem perdeu o bom humor e diz que é apenas: um amigo do peito...

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