segunda-feira, 17 de junho de 2013

Vinho e cordeiro em Livramento


                                      Cave dos vinhos da Campanha em Santana do Livramento


Os futuros campeões Texel já estão sendo tatuados na Cabanha Santa Orfila, bonitos e saudáveis
Fotos DU/JN

Estive alguns dias em Livramento, bebendo bons vinhos e comendo boa carne. Estive visitando a Cláudia Fontoura Menezes, na Cave do Vinho da Campanha, e fiquei surpreso com o que ela me contou sobre a visitação e as vendas, algo que eu, sinceramente, não acreditava muito, vista a concorrência dos vinhos chilenos, argentinos, franceses e italianos vendidos nas lojas free shops de Rivera, cidade uruguaia ao lado, e nas quais o produto, além de já vir mais barato dos seus países de origem, tem um desconto de 30% nos impostos. Apesar disso, vários visitantes procuram comprar os vinhos das 18 vinícolas que já existem na Região da Campanha e ali expõem seus principais vinhos. A maior procura tem sido por vinhos da Almadem, mas outras vinícolas novas estão crescendo na preferência do público, inclusive as pequenas, como Rio Velho. Outra muito procurada tem sido a Guatambu, de Dom Pedrito.
Outro fato me surpreendeu positivamente. Eu estava lá, sentado, conversando com a Claudinha, quando entrou o dono da livraria Marco Zero, que veio comprar vinho para um coquetel de lançamento de livro que aconteceria em sua loja naquele fim de tarde (até fiquei de ir lá, mas acabou não dando). Gostei da iniciativa dele de apoio ao vinho brasileiro, ao vinho da Campanha, porque ele poderia, simplesmente, atravessar a rua, entrar no Uruguai, e comprar vinho estrangeiro por preços bem mais acessíveis que os brasileiros (carregados de impostos) e, no entanto, preferia levar vinho brasileiro para seus convidados. Na cidade de Rivera, há bons vinhos chilenos entre US$ 4 e US$ 7, isto é, entre R$ 8,00 e R$ 14,00. A Cláudia me contou que outras entidades santanenses estão fazendo isso, apoiando e comprando vinho brasileiro. Muito bem, minha gente.
Na coluna do Duda Pinto, em A Platéia, jornal onde comecei minha carreira, no início dos anos de 1960, li que novos grupos estrangeiros tem visitado a cidade em busca de informações sobre o terroir local, visando futuros investimentos. Este pessoal estaria interessado em vinho base para espumante, o que achei curioso, porque, na minha opinião, aquela região é mais favorável para os tintos, com o que nem todos concordam.
Fui entrevistado pelo radialista Clodomiro Gonçalves, na Rádio Cultura, e também falamos sobre as novas oportunidades que a vitivinicultura está trazendo para o município e para a região. A Salton, de Bento Gonçalves, por exemplo, já planta 110 hectares de vinhedos em Livramento, na região do Passo do Guedes, a mesma onde existe um grande vinhedo e complexo industrial da Cooperativa Aliança (Santa Colina), e está planejando investir mais R$ 45 milhões no município, não só aumentando os parreirais, mas, também, construindo instalações para vinificação local. Alia´s, vou tentar falar com o Daniel Salton sobre isso.
Com meu amigo Claudino Loro, bebendo um bom vinho ao pé da lareira, na noite fria de sexta-feira, falamos sobre cordeiros. O clima tem sido bom, apesar do frio, há boa umidade nos campos e o rebanho se desenvolve lindaço, com a cordeirada nascendo bonita. O rendimento da última inseminação, feita no início do ano, foi tão bom, que ele está sendo forçado a procurar comprador para 800 ovelhas para desafogar um pouco o campo para os novos, que estão chegando, e para o verão, quando deverá inseminar cerca de 1.300 ovelhas, cuja fertilidade vem se mantendo excelente, com elevado índice de nascimentos duplos. Loro cria ovinos Texel e Lacaune. Ele está fazendo uma bonita experiência: como, nos últimos anos, tem nascido muito animais pretos, ele os separou e está montando um rebanho só de pretos.
Encontrei, também, com o João Alberto Guerra, médico e criador de Poll Dorset, que aproveitou para cumprir uma dívida antiga e me deu uma paleta de cordeiro, que pretendo preparar hoje à noite, já aqui em Porto Alegre. Vamos ver se ele tem alguma razão quando diz que a carne de Poll Dorset é a mais gostosa de todas. Para não fugir ao contato com a terra, escolhi um vinho de Livramento para acompanhar o cordeiro, um Tannat da Coxilha de Santana, elaborado pelo Gladistão Omizzolo..
Por falar em Tannat, soube que a Almadem não vai produzir, em 2013, o Vinhas Velhas Tannat, porque as uvas não chegaram ao grau de qualidade que a empresa exige para fazer um vinho top de linha. Isso, certamente, vai valorizar as duas safras anteriores, cujas garrafas estão sendo vendidas, hoje, em torno de R$ 90,00. Corra e compre as que encontrar. É um vinho originado no mais antigo vinhedo do Brasil conduzido em espaldeira, ao pé do cerro Palomas, em minha Santana do Livramento. Não digo que ajudei a plantar tais parreiras, há 36 anos, mas estive no lançamento da pedra fundamental dos vinhedos Almadem, então pertencentes à norte-americana National Distiller´s (depois foi da Segram´s e da Pernod Ricard e hoje é do Miolo Wine Group). Localizado no Paralelo 31S, este vinhedo proporcionou a Tannat utilizada neste vinho. O enólogo Adriano Miolo, que o está levando para uma degustação especial no Rio, diz que o processo de vinificação integral em barrica nova de carvalho francês potencializou as virtudes da casta, perfeitamente adaptada ao terroir da Campanha Gaúcha. Com graduação alcoólica de 14%, robustez e solidez são substantivos que traduzem a verdadeira essência deste vinho. De corpo intenso e potente, apresenta taninos maduros e envolventes, possuindo excelente persistência gustativa, com invulgar elegância e fineza.



Um comentário:

Unknown disse...

Só para informar, ontem na tardinha fechei negócio com os cordeiros, borregos e ovelhas do Loro para carregar no domingo. Texel da Sta. Orfila no mercado é garantia de uma carne de primeiríssima.

Gil Tozatti Fernandes