quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Vinho brasileiro já alcança longevidade



  Orestes, Pedro e Menoncin

                 Sommelier Antonio apresenta o Don Giovanni 1999
                   Laura Schirmer e Andréia Martins


                    Uma das adegas do Scantinato di Peppo

                    O anúncio da degustação                     Fotos DU/JN

O mais moderno, bonito e bem estruturado winebar de Porto Alegre, com uma adega de 1.200 rótulos, criado para promover eventos especiais no mundo do vinho, começou, exatamente, com uma degustação que ajuda a provar que o vinho brasileiro está conseguindo superar o grande desafio que tinha, o da longevidade na garrafa. Uma degustação no Scantinato di Peppo (rua Mariante esquina Dona Laura), com vinhos de até 21 anos, mostrou que vários deles, apesar do tempo, estão perfeitos e bebíveis. A degustação foi organizada por Andréia Martins, Pedro Hoffmann, donos do winebar, e Orestes de Andrade Jr., do Instituto Brasileiro do Vinho, no dia 2 de outubro, data que ficará marcada na história do vinho. O Scantinato foi criado, exatamente, para eventos como este.
A degustação contou com a participação deste bloguista, Andréia Martins, Pedro Hoffmann, Orestes de Andrade Jr., Andréia Debon e Mirian Spuldaro, da revista Bon Vivant, Irineu Guarnier Filho, do Canal Rural, Flávio Pizzato, enólogo da Pizzato Vinhas e Vinhos, Orestes de Andrade Jr., do Ibravin, e Arlindo Menoncin, enólogo da Boccatti. O sommelier Antonio abria e servia os vinhos, mas também dava os seus palpites. Chovia torrencialmente e a atmosfera criava um clima mais aconchegante dentro do bar bem decorado e fracamente iluminado. Foram degustados 14 vinhos, sob os olhares atentos da jornalista Laura Schirmer, cujo avô, Lauro Schirmer, me apresentou aos vinhos alemães.
Começamos pelos espumantes. Primeiro, um Casa Pedrucci 2002, champenoise, muito interessante, talvez um pouco oxidado, mas isso não lhe tirou a complexidade, perlage e aromas. Depois, um Don Giovanni Brut 1999, também champenoise, com 12% de álcool, com aromas instigantes e o amanteigado característico dos melhores, muitos presente. Seguiu-se um Cave Geisse Brut 1998 Magnum, 12,5% de álcool. Como é costume do enólogo Mário Geisse, o vinho base é 98, mas o degorgement (retirada dos sedimentos das leveduras) foi feito em 2012. Ficou uma bebida de excelência próxima do champagne, bom de boca, bem amanteigado. Estas garrafas, que não devem ser muitas na adega de Geisse, só são vendidas para grupos e, pelo que sei, devem andar em torno de R$ 600,00 cada.
O primeiro vinho tranqüilo foi o quarto da série, um Dom Robertto Cabernet Sauvignon 1991, elaborado em Vila Esmeralda, em Santa Maria, na região central do Rio Grande do Sul. É um dos primeiros vinhos longevos brasileiros, com 21 anos de idade, manteve sua acidez e os taninos bem claros. O quinto também foi um Dom Robertto Cabernet Sauvignon 1994. Apesar dos 17 anos de garrafa, mostrou-se com grande complexidade, depois de ter ficado um bom tempo no decanter para abrir-se, um vinho vivo. A Andréia Debon e o Irineu Guarnier, comparando um com o outro, gostaram mais do 91.
O sexto vinho foi o Don Laurindo Tannat 1995, que também foi para o decanter para abrir-se. Tinha pequeno vazamento na rolha, mas isso não comprometeu sua performance, não lhe criou defeito. Com 13% de álcool, mostrou-se bem vino na boca, com taninos suavizados, mas presentes. O sétimo, foi um Boscato Merlot Reserva 1998, com 11,5% de álcool. Muito bom, com notas de erva seca, uma palha, tipo feno, couro animal, extremamente macio, acidez não muito forte, mas presente, redondo, gostoso na boca.
O sétimo vinho foi um Dal Pizzol Cabernet Sauvignon-Merlot-Tannat 1999 que, posso adiantará, não desapontará o seu Antônio Dal Pizzol nem o enólogo Dirceu Scottá, cujas mãos estão neste vinho. Tem doçura, caramelo, geléia de uva, excepcional no nariz após meia hora de aberto, aroma doce de uva madura, acidez equilibrada, bem gastronômico na boca. No meu entender, foi o melhor aberto até então, embora a degustação não tenha sido montada para mostrar o melhor ou o pior, mas, sim, ver se vinhos brasileiros tinha longevidade na garrafa. Pela mostra, o vinho brasileiro passou no este do desafio do tempo.
O nono vinho foi um Casa Valduga Merlot Premium 1999. Também não desapontou. Além de vir de uma safra famosa pela qualidade das uvas, teve passagem em madeira, que ajudou a conservar seus taninos equilibrados, com um misto de doçura e boa acidez. O décimo foi um Pizzato Cabernet Sauvignon 2000 que não deixou mal o enólogo da casa, Flávio Pizzato, que estava em nossa bancada. Vinho que passou seis meses em madeira americana, confirmado pelo Flávio, deixou isso bem presente, mostrou-se amadurecido, com pimenta branca, pimentão verde, pouca fruta, um pequeno aroma de iodo. Muito bom, comentou o enólogo, lemabrando que o Brasil faz vinhos finos com mais intensidade há pouco mais de 10 anos.
O décimo primeiro vinho foi um Vallontano Cabernet Sauvignon Reserva 2000, com 12 graus de álcool, equilibrado, evoluiu bem na taça, discreto, com equilíbrio, que deve ter sido a intenção do enólogo Luiz Henrique Zanini, que se dedica a fazer vinhos de terroir, respeitando tudo o que a natureza dá. O décimo segundo, foi um Máximo Boschi Cabernet Sauvignon 2000 que mostrou que ainda vai muito londfe. Tem bom aroma de frutas, está firme, cor tijolo e não demorou muito para mostrar suas qualidades e seus 12,8% de álcool. O décimo terceiro, um Dom Robertto Cabernet Sauvignon 2001, com 12,2% de álcool, também elaborado em Vila Esmeralda, em Santa Maria. Custou mais para abrir, mas mostrou-se perfeito. O produtor Roberto Beltrami deve estar muito satisfeito com as performances dos seus tintos.
Finalmente, fechamos a degustação com um vinho branco licoroso Perini, não datado, mas que se sabe ter sido elaborado com um vinho base moscato com mais de 20 anos. Bem doce, tem 16,5% de álcool, continua frutado e de aroma intenso.
Concluida a degustação, fomos discutir os vinhos apreciados na mesa, onde nos esperava uma amostra dos petiscos que o Sacntinato di Peppo vai oferecer para quem for beber seus vinhos. Como disse Andréia Martins, a estrela da casa é o vinho, os pratos são o acompanhamento. Mas quem quiser algo mais reforçado, pode pedir do restaurante Peppo Cucina, que fica na parte superior do winebar. O início foi com brusquetas de presunto cru e queijo brie, tomaye seco e mini rúcula, pasta de queijo gorgonzola e mussarela de búfala. Depois, steak tartare, com filé mignon picado, temperado com mostarda, alcaparras, azeitonas pretas, tomate e maionese, servidos com torradinhas. Seguiu-se tartare de salmão cru, suco de limão, azeite extra-virgem, azeitonas pretas, tomate, maionese e um toque de shoyu, também com torradinhas; carpaccio de carne crua fatiada, parmesão, mini rúcula, tomate cereja, limão, alcaparras e azeite de oliva com torradinhas; mini hambúrguer com pão artesanal, carne e queijo provolone cobertos com cogumelos e cebola caramelada. Finalmente, um croque monsieur, sanduíche quente feito com pão, presunto, queijo, grelados, cobertos com molho branco gratinado e vitelo tonatto, carne cozida fatiada com molho de atum, maionese e alcaparras, servido com torradinhas.
Cada um harmonizou suas comidinhas com o vinho da degustação que melhor gostou, como o Vallontano, elegante e clássico; ou o Pizzato Reserva Cabernet Sauvignon 2000, com carvalho acentuado. Não esteve na bancada de degustação, mas apareceu à mesa um Baron de Lantier Cabernet Franc, Coleção Regional, elaborado pelo enólogo Adolfo Lona com uvas de Pinheiro Machado, excelente.

Orestes, Pedro, Ucha, Andréia e Irineu
                           Foto Mirian Spuldaro



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