domingo, 20 de novembro de 2011

Portugal 16 – Quinta da Bacalhôa, o palácio, seus jardins e os grandes vinhos


Vasco Penha Garcia, coordenador de enologia da Bacalhõa

O Palácio da Bacalhôa, em Azeitão, é um patrimônio nacional

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Chovia muito quando chegamos ao Palácio da Bacalhôa, em Azeitão, na Península de Setúbal, mas a calorosa acolhida de Vasco Penha Garcia, coordenador de enologia, da Carina Gomes e da Francisca van Zeller aqueceram nossos corações, enquanto o vinho aqueceu o estômago e a alma. Vistas as belas instalações do Palácio da Bacalhôa, começamos com um JP Azeitão Branco 2010, com Fernão Pires (55%) e Moscatal de Setúbal, vinificadas separadamente, um vinho seco, embora aromático, 13º de álcool, sem madeira, o que o torna floral e frutado, apontado como o vinho mais vendido em Portugal. Seguiram-se um Quinta dos Loridos Alvarinho 2010, 100% alvarinho, rico, fresco, mineral, também sem madeira; um Catarina 2010, com Fernão Pires (45%), chardonnay (40%) e arinto (15%), que passou entre 4 e 5 meses em barricas de carvalho francês nova, mineral e floral, excelente homenagem à Rainha Catarina de Bragança, que lhe empresta o nome; e um Cova da Ursa 2010, 100% chardonnay, 5 meses em barrica nova de carvalho francês Allier, um vinho verdadeiramente revolucionário, cor dourada com reflexos esverdeados, rico em frutas como pêssego e ananás, mineral.
Seguimos com o JP Azeitão Rosé 2010, elaborado com touriga nacional (40%), moscatel roxo (40%) e syrah (30%), sem madeira. A moscatel roxo, uma casta rara, dá-lhe o aroma de rosas; o JP Azeitão Tinto 2010, com castelão (70%), aragonez (20%) e syrah (10%). Sem estágio em madeira, tem estilo moderno, cheio de fruta, 13º de álcool, acompanha muito bem um bacalhau. O Meia Pipa 2008, com castelão (40%), cabernet sauvignon (30%), syrah (30%), 14 meses em barricas de carvalho francês usadas de 250l (por isso o nome de meia pipa), vermelho intenso, é primeira colheita, 14º de álcool e, por isso, ideal para carnes grelhadas.
Muito interessante o Tinto da Ânfora 2009, elaborado com uvas aragonez (50%), touriga nacional (20%), trincadeira (20%) e cabernet sauvignon (10%), plantadas e colhidas em diferentes regiões do Alentejo, que passou 12 meses em carvalho francês novo, e que leva este nome porque parte das uvas vieram da Herdade das Ânforas, em Arraiolos. Gostei muito do Quinta do Carmo 2007, com aragonez (50%), trincadeira, alicante bouschet e cabernet sauvignon, uma mistura de uvas alentejanas e francesas, com características fortes do terroir do Estremoz, 14º de álcool, 12 meses em barricas de carvalho francês. Cor vermelha densa, aromas de frutos vermelhos, elegante, taninos suaves. Outro muito interessante foi o Má Partilha 2008, 100% merlot, a minha uva predileta, com 16 meses em carvalho novos francês Allier, 14,5º de álcool, vermelho intenso, notas de fruta muito madura, quase compota, taninos finos e elegantes, ideal para acompanhar um carré de cordeiro com batatas coradas. A degustação terminou com um Quinta da Bacalhôa 2009, 90% cabernet sauvignon e 10% merlot, que passou 12 meses em barricas novas de carvalho francês e 6 meses em garrafa tem 14,5º de álcool. Possui um grande potencial de envelhecimento na sua adega, recomendado para pratos fortes de carnes, como as de javali. O Quinta da Bacalhôa é o primeiro cabernet sauvignon português, lançado em 1979. Custa E 18 (R$ 43,00) em Portugal, mas chega ao Brasil em torno dos R$ 90,00.
Terminada a degustação, fomos ao almoço, espetacular desfile de boas comidas e excelentes vinhos Começamos com um queijo de ovelha sensacional e conversando sobre os famosos e gostosos queijos portugueses Serpa, Estrela e Azeitão, acompanhados por um espumante Loridos Extra Brut 2007, feito com alvarinho, chardonnay e arinto, que fica três anos na garrafa, safrado, sem adição de açúcar. Depois, com uma excelente sopa de abóbora, um branco fermentado em madeira, 25% semillon, 25% alvarinho e 50% cabernet sauvignon, e o Tinto da Bacalhôa 2009, 90% cabernet sauvignon. O terceiro vinho do almoço foi um Palácio da Bacalhôa 2007, 60% cabernet sauvignon, 30% merlot e 10% petit verdot, inspirado nos vinhos de Bordéus, mais concentrado, boa madeira, contemporâneo, que acompanhou deliciosamente o arroz com pato, prato que repeti, tão bom estava.
Para finalizar, um Moscatel de Setúbal 2000, grande vinho generoso, 100% uvas Alexandria, originárias do Egito, doce, ácido e amargo ao mesmo tempo, considerado o melhor moscatel do mundo, envelhecido à moda do Madeira. Depois, o Moscatel Roxo 2000, vinho delicado, seco, elegante, com menos taninos. Estava tudo tão bom que o almoço terminou às 17h! E, daí, fomos para Palmela, jantar no restaurante Alcomena, em Quinta do Anjo.

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