quarta-feira, 20 de julho de 2011

Parrillada e tango, vinho bom, e carne de javali


Na Posada Lunarejo, um casco de estância de 1880, a cama onde Aparicio Saraiva talvez tenha dormido em 1893



Mario Padern na Quebrada de las Éguas, na Estância Los Balcones de Lunarejo
















Olga Ortiz Abelenda, cantora e proprietária da Galpón
Foto DU/JN
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A viagem por Rivera teve, também, tango, canção e vinho na Parrillada Galpón, na Calle Ituzaingó, com um excelente trio de músicos e a encantadora cantora Olga Ortiz Abelenda, intérprete de ritmos e canções uruguaias, brasileiras e latino-americanas em geral. Também um belo espetáculo de tango com bailarinos competentes e aplicados. Em homenagem ao nosso amigo Carrau, o vinho não poderia ser outros, o Amat, que a casa está vendo por 1.600 pesos a garrafa (R$ 155,00). Na comida, bons chinchulines e mollejas.
Aproveitamos o domingo para visitar o Valle do Lunarejo, localidade sem igual no restante do território uruguaio, pois é a única região com altos morros (Rivera é a área de maior altitude no país), canhadas profundas, cachoeiras e mata nativa. No campo, gado, ovelhas e emas (ñandus), javalis, uma flora e fauna típica dos campos americanos, transformado em reserva natural pelo governo. Na Posada Lunarejo, uma antiga estância cujo prédio foi construído em 1880, a poucos quilômetros da cidade de Tranqueras, almoçamos comidas de “cocina criolla”, com destaque para uma carne de javali ao molho que se desmanchava ao toque da faca, e “raviólis al tuco”, harmonizado com um potente Cabernet Sauvignon Viñas Del 636 2009, elaborado pela Vinícola Del Marco 636, também da região do Cerro do Chapéu, onde está Carrau. Vinho ainda um pouco jovem, vendido por preço bem acessível: 160 pesos (cerca de R$ 15,00).
A Posada tem boas instalações, quartos com camas bonitas e vistosas, banheiros privativos. Como está situada numa região por onde cavalgaram “Los tres de Cerro Largo” - Gumercindo , Aparicio e Mariano Saraiva, mitos da Revolução Federalista gaúcha de 1893 - e seus 400 cavaleiros, brinquei que numa daquelas camas antigas dormiu Aparício Saraiva, político, militar e caudilho do Partido Blanco do Uruguai, num descanso da luta contra Julio de Castilhos, recompondo forças para voltar ao Exército Libertador que lutava no vizinho Rio Grande do Sul. No Uruguai, o sobrenome deles é Saravia! Fiz um brinde aos homens que criaram a “guerra de guerrilhas à cavalo”, e, como Martin Guemes, fizeram “com que os gaúchos pampeanos deixassem de ser tratados como a plebe rural, como bandoleiros, para torná-los respeitáveis combatentes”, gente de “bota e potro”.
No Lunarejo, ainda visitamos a Estância Los Balcones de Lunarejo, hoje administrada por Mário Padern, jovem que entre a lida do campo, com gado e ovinos, sempre encontra um tempo para receber visitantes da Europa e dos Estados Unidos que querem conhecer a rara natureza de seus campos e, principalmente, as formações rochosas raras no Uruguai e as canhadas imensas cobertas de uma mata nativa que alguns dizem ser continuação da Mata Atlântica brasileira. Pena que Padern, como outros criadores do norte uruguaio, esteja sendo obrigado a abandonar a criação de ovelhas, pois a disseminação dos javalis acaba com os cordeiros e, até mesmo, com as ovelhas adultas. Todos querem que os governos, tanto do Uruguai como do Brasil, adotem medias para combater a invasão de javalis, um animal estranho à região, mas ninguém faz nada. No lado brasileiro, além de abater os animais – inclusive vacas -, os javalis destroem lavouras de arroz e milho e matam os cachorros que os perseguem.
A viagem a Livramento-Rivera foi um belo fim-de-semana. Voamos pela uruguaia BQB, com champagne no serviço de bordo, copos de vidro e não de plástico, como nas companhias brasileiras, vôo tranqüilo, calmo, a pouco mais de 5 mil metros de altura e velocidade de 500 km/h. De ônibus, se leva 6/7 horas, pela BQB, 1 hora. E o preço da passagem é um pouco mais do que a do ônibus leito. Há dois vôos semanais – segundas-feiras e sextas-feiras e, a partir do dia 2, mais um, às quartas-feiras. A empresa, que já voa até Florianópolis, no Brasil, estuda um vôo direto Rivera-São Paulo, diante do grande número de executivos das vinícolas da Campanha que precisam viajar e, certamente, da demanda que vai ser ser gerada pelo Rivera Casino & Resort Hotel.

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