sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Vinícola Pericó -primeiro e único icewine do Brasil



Uma garrafa do "ice wine" Pericó e a boa indicação de que a pinot noir de 2011 será excelente.




Embora meu amigo Antonio Sartori, o maior operador de commodities agrícolas do Rio Grande do Sul, não acredite em “ice wine” brasileiro, repito aqui informações que já antecipei sobre a produção de um “ice wine” pela Pericó, de São Joaquim, em Santa Catarina. Não provei o vinho, não posso dizer nada sobre ele, mas recebi, na época, fotos das uvas congeladas e da neve sobre os parreirais na serra catarinense. Wandér Weege, fundador da Vinícola Pericó, ficou tão entusiasmado que disse “prepararemos o vinhedo para tornar realidade essa ideia.”
A história vitivinícola conta que povos muito antigos, como os romanos, já produziam vinho com uvas congeladas e que o primeiro ‘vinho do gelo’ da era pós-romana foi feito na Alemanha, em 1794. Mais de dois séculos depois, a vinícola Pericó lançou, no dia 10/10/10, às 10h10’10’’, o primeiro e único “vinho do gelo brasileiro” em uma data especialmente escolhida para um vinho raro da safra 2009.
O Pericó Icewine foi cultivado a 1.300 m.s.n.m. em São Joaquim, Santa Catarina, e resulta de um projeto inovador onde foram colhidas uvas congeladas a -7,5 °C no amanhecer de 4 e 12 de junho de 2009, para elaborar um vinho raro e genuinamente brasileiro (Olha aí, Sartori). Enquanto na maioria dos países produtores de icewine, como Alemanha, Áustria e Canadá, as uvas são das variedades brancas, na Pericó a eleita foi uma das mais requisitadas da atualidade: a Cabernet Sauvignon.
“Escolhemos esta variedade por ser a mais tardia disponível no vinhedo e a única capaz de sustentar seu lento amadurecimento nas parreiras até a chegada das temperaturas negativas do inverno na altitude de São Joaquim”, explica Jefferson S. Nunes, agrônomo e enólogo.
No vinhedo o processo também é diferenciado: a poda das videiras é feita pelo método Guyot, com o objetivo de distribuir melhor os cachos e dar maior uniformidade na maturação das uvas. Também é feito um raleio drástico, com descarte de mais de 50% da uva que seria produzida por pé para favorecer a concentração de açúcar. No caso do Pericó icewine, restaram menos de 600 gramas por planta, metade da produção usual para vinhos premium.
A colheita, também diferenciada, foi feita antes do nascer do sol para manter as frutas congeladas durante o transporte até a vinícola, onde são prensadas e separadas as partes sólidas (gelo, sementes e cascas) do mosto rico em açúcares. Wandér Weege, administrador da vinícola, enfatiza que neste momento o mosto foi degustado e que a experiência foi única: “Degustamos o mosto a -4oC. Foi a glória. Vinificado, e agora pronto, será como até já podemos dizer: o introdutor do Brasil no limitado mundo dos vinhos icewine”.
E para ‘guardar’ esse vinho raro, buscou-se na Itália uma pequena garrafa com peso, transparência e design capazes de expressar a charmosa e rica história do primeiro vinho do gelo brasileiro. O que o apreciador vai encontrar é um estojo especialmente elaborado, contendo uma lata diferenciada desenvolvida em parceria com a Meister de Santa Catarina, um livreto ricamente ilustrado que conta a história do icewine da Pericó e uma tag com dicas de harmonização.
Para marcar o lançamento, uma taça também foi criada especialmente pela famosa Cristallerie Strauss. O item não está incluído no kit do Pericó Icewine, mas pode ser adquirido separadamente pelos amantes do mundo do vinho.
Para traduzir a arte de elaborar um icewine, a Vinícola Pericó convidou a artista plástica Tereza Martorano, expoente da arte naïf brasileira e natural de São Joaquim, para retratar a colheita das uvas congeladas na madrugada do inverno de 2009 e que resultariam no Pericó, o primeiro vinho do gelo brasileiro. O resultado é a gravura ‘Vindima na Neve’ (foto), que inspirou toda a comunicação visual do produto.
Além de coleções particulares na Alemanha, França, Colômbia, Argentina, Estados Unidos, Espanha, Suíça e Itália, a obra de Tereza Martorano integra acervos de museus como o Dronninglund Kunstcenter (Dinamarca), o Museu de Pintura Primitiva da Cidade de Assis (SP), o Museu de Arte de Santa Catarina, o Museu de Arte de Joinville e o Museu de Arte de São Joaquim.
Em São Joaquim (SC), está localizado o Pericó Valley, e este foi o local escolhido para abrigar o vinhedo da Pericó por suas características de altitude a 1.300 m.s.n.m. A preparação das terras durou 2 anos e o plantio das mudas procedentes da França, das variedades Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Merlot, Chardonnay e Sauvignon Blanc, teve início no final de 2004 e seguiu até fevereiro de 2005.
Em 2007, a vinícola lançou seu primeiro vinho, o Taipa Rosé. Em outubro de 2008, um passo ousado: o lançamento dos primeiros espumantes de altitude catarinense, o Cave Pericó Branco e Rosé brut, produzidos pelo método Charmat. Também integram a carta de vinhos da Pericó os espumantes Demi-Sec Rosé e Demi-Sec Branco e os lançamentos da safra 2010, o Vinho branco Taipa Vigneto, feito 100% de uvas Sauvignon Blanc, e os Basaltinos Chardonnay e Pinot Noir, este último o primeiro tinto da vinícola.
A Pericó se propõe a apresentar exclusivamente vinhos finos de altitude e qualidade superior, e para isso não poupa esforços, principalmente no que diz respeito ao bem estar da sua equipe e à natureza.
“Para realizar o projeto Pericó, o dia-a-dia nos entusiasma: não é só plantar o vinhedo, há, ainda, o trato com os pés de uva, o corte, a poda, o descanso”, resume o fundador.
O cuidado com o solo, o ar e o respeito à natureza são praticados desde o surgimento da Pericó. O transporte dos cachos é feito em caixas pequenas, com os frutos cortados com cuidado para evitar a fermentação em cada baga. Além disso, um caminhão frigorífico é utilizado para levar as uvas à vinificação: outro detalhe exclusivo da Pericó.
Salas de treinamento, a realização de cursos, transporte interno e a ginástica laboral são outros diferenciais que também demonstram o cuidado da vinícola com o bem estar de seus funcionários, além do pagamento de 14º. Salário.
Espero que, depois de todas estas informações, meu amigo Antonio Sartori, que não só é bom na comercialização mundial de soja, trigo e milho, mas, também, bom em gastronomia e possui uma apreciável adega, acredite na possiibilidade do “ice wine” brasileiro. Bem que nós poderiamos fazer uma excursão à Pericó para degustar o “vinho do gelo”.

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