sábado, 13 de dezembro de 2008

Vinho de Porto Alegre vende em Nova Iorque

Um vitivinicultor pioneiro no plantio de uvas viníferas em Porto Alegre, nas colinas do bairro Vila Nova, e que hoje produz vinhos de alta qualidade que são vendidos nos Estados Unidos, Canadá e países escandinavos, está ampliando suas atividades e vai começar, em março, o plantio de videiras numa área de 10 hectares que adquiriu na Toscana, perto de Carrara e Florença, na Itália, onde já possui outra área, em Negrar, província de Verona, onde produz, desde 2000, vinhos Valpolicella e Amarone, considerados entre os melhores do mundo. Em Verona, trabalha em sociedade com o jovem italiano Luca Fedrigo. E está iniciando, também, um grande projeto, em parceria com investidores italianos e argentinos, em Mendoza, numa área de 2.000 hectares, ao pé da cordilheira dos Andes, na qual, além de plantar uvas viníferas, azeitonas e cerejas, vai criar um “condomínio vinícola”, algo muito comum na Europa e nos Estados Unidos, que consiste no arrendamento ou venda de pequenas áreas dentro do conjunto e prestação de todos os serviços necessários para pessoas que queiram ter seu próprio vinhedo e fazer seu próprio vinho. A empresa oferece as mudas, consultoria para plantio, cuidados, colheita e vinificação.
Este viticultor e empreendedor gaúcho é Luiz Alberto Barichello, que foi Diretor Financeiro do Grupo RBS e deixou a empresa para concretizar seu sonho de produzir vinhos. Nascido em Garibaldi, onde seus ancestrais chegaram em 1880 e logo começaram a trabalhar com vinhos, Barichello adquiriu a área de terra na Vila Nova, em Porto Alegre, em 1978. Com clima sub-tropical – a cerca de 30km do centro da capital, a região tem 1 grau a menos na temperatura média – e solo rico em minerais é excelente para uvas e frutas.

Pioneiro em uva passificada

Os primeiros vinhos foram feitos a partir de uvas americanas numa cave rústica de pedras, ladeada por uma queda d´água. Em 1999, começou a plantar viníferas importadas da Itália – cabernet sauvignon, cabernet franc e merlot - e foi pioneiro, no Brasil, a produzir vinhos com uvas passificadas, o que aumenta de forma extraordinária a qualidade do produto. Depois de colhidas, as uvas são colocadas num jirau e ficam secando até quase se tornarem passas. Aí, então, começa o processo de vinificação. No início, a secagem era natural. Hoje, é feita por um equipamento de ar condicionado altamente sofisticado, criado pelo engenheiro Fúlvio Petracco. A primeira safra foi a de 2003, com a marca Villa Bari. A qualidade tem custo: só para secar as uvas a Villa Bari gasta de eletricidade R$ 2,00 por quilo de uva, mas ela chega a 28 graus babo de açúcar natural.
Em 2000, viajando pela Itália, Barichello conheceu o jovem enólogo italiano Luca Fedrigo, em Negrar, província de Verona, e o amor pelo vinho aproximou-os. Fedrigo tinha terra e vontade. Faltava-lhe capital. Barichello entrou com o dinheiro e nasceu a companhia Barichello & Fedrigo SRL, com a marca L´Arco, para produzir os vinhos Valpolicella e Amarone com a marca L´Arco, já famosos no mercado mundial. A vinícola está situada na histórica região de Valpolicella e cultiva uvas como corvina, rondinella, molinara, cabernet, nebbiolo, croativa e sangiovese, cujos cortes resultam em vinhos Amarone della Valpolicella, Rúbeo, Pario, Rosso Del Veronese e o clássico Valpolicella. Alguns destes vinhos estão à venda no Mundo dos Vinhos, em Porto Alegre, com desconto de 20%: Amarone Clássico Della Valpolicella 2001, R$ 298,00; Rúbeo 2002, R$ 210,00; Valpolicella Clássico Superiore 2003, R$ 99,00; Pario 2003, R$ 194,00; Rosso Del Veronese 2003, R$ 74,00.

Encanto pela Toscana

Em 2005, Barichello, viajando pela Toscana, encantou-se com uma pequena quinta que sentiu abandonada ao lado da estrada, apesar da beleza do lugar e da vista, pesquisou entre os corretores da região e descobriu que estava à venda. Comprou-a e lá começará a plantar parreirais em março para a produção de vinhos Chianti e Brunello. Uma curiosidade contada por Barichello: para se plantar determinados varietais é preciso pagar direitos. No caso da uva para produção de Chianti Clássico, que é o que ele vai fazer, o valor é 45 mil euros (R$ 157.500,00) por hectare. Só de direitos, ele vai pagar R$ 1,5 milhão. Para compra, o preço médio do hectare, dependendo da região,está em torno de 150 mil euros (R$ 525 mil). No caso das uvas I.G.T. (Indicação Geográfica Típica), é 10 mil euros (R$ 35 mil). Os italianos criaram a designação I.G.T. para vinhos elaborados com uvas só de determinada região, o que elimina desta classificação as uvas de origem francesa.
Os vinhos produzidos por Barichello em Porto Alegre – Cabernet Villa Bari, Merlot Villa Bari e Gran Rosso Villa Bari - beneficiaram-se do seu internacionalismo. Como o mercado norte-americano tem grande sede de vinho italiano e os que ele e Luca produzem em Verona são de alta qualidade ele impôs uma condição ao importador americano que pediu exclusividade para vendê-los nos Estados Unidos: tem que importar, também, 60% dos demais vinhos de sua produção. Por isso, os vinhos Villa Bari estão nos Estados Unidos e já começaram a vender bem em Nova Iorque. Aqui no Brasil, têm preço sugerido de R$ 69,00 (Gran Rosso) e R$ 29,90 (Merlot).

Degustação comprova qualidade


Em degustação que fizemos, no entardecer do dia 3 de dezembro, no castelinho da Vinhos do Mundo, na avenida Cristóvão Colombo, foi possível comprovar a excelência dos vinhos do Barichello. Estavam presentes ele, o José Antônio Pinheiro Machado, que também atende pelo pseudônimo de Anonymus Gourmet, o Walmor Bergesch e eu.
Começamos com uma mostra de Chianti Clássico 2006, que ainda está nas barricas, na Itália, aberto para conhecimento de suas potencialidades. É dos bons.
Depois, partimos para um Chianti Montevertine 2002, clássico da Toscana, elaborado com uvas sangiovese, canaiolo e cabrine, um I.G.T. de 12,5 graus, mas que se bebe com tranqüilidade e sensação de paz, redondo, taninos suaves. Depois, fomos para o Villa Bari Rosso 2005, elaborado com cabernet sauvignon (50%) e merlot (50%), que se mostrou consistente, destacando o fantástico que é o resultado da uva merlot nas colinas da Vila Nova. O que Barichello está conseguindo com a merlot na Villa Bari confirma resultados que também estão sendo obtidos com esta uva na Serra Gaúcha e nos campos da Campanha. Merlot, sem dúvida, é a uva do Rio Grande do Sul.
Encerramos com um Valpolicella Superior L`Arco 2003, elaborado sob supervisão de Fedrigo Luca, em San Pietro in Cariano, com 50% de corvina, 5% de molinara, 35% de rondinella e 10 de cabernet, nebbiolo, croatina e sangiovese colhidas tardiamente. É um vinho intenso, com corpo e aromas destacados, estrutura firme.

Um comentário:

Liv Araújo disse...

Mas que beleza, Ucha! Não sabia que tinhas um blog.
Abraço da Lívia.